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Quando o DF vai pagar seus precatórios?

  • Foto do escritor: Gustavo Trancho
    Gustavo Trancho
  • 10 de jul. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 23 de jul. de 2020

Publicação de 10 de julho de 2020


Esta publicação apresenta a estimativa mais razoável para o recebimento de precatórios emitidos pelo Distrito Federal.


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Domínio Público - Fila na Polônia

Os precatórios mais antigos da fila do Distrito Federal foram expedidos em 2003, ou seja, pelo menos 17 anos de espera, depois de ter a ação julgada. Mas é possível ter esperança de que daqui a alguns anos, essa espera será menor. Antes de explicar o motivo, é apresentado um resumo básico sobre os precatórios e sua história mais recente:


O que são precatórios?

Quando algum particular não paga suas dívidas, o credor pode apontar os seus bens para serem vendidos pelo Judiciário e saldar o valor devido.

No entanto, quando um ente público está devendo, há uma regra própria que impede que a Justiça Federal, por exemplo, tome um prédio do INSS para pagar um benefício previdenciário em atraso.

O art. 100 da Constituição estabelece que as condenações judiciais irrecorríveis de um ano serão enviadas pelo Presidente do Tribunal para o ente público condenado, que incluirá essa quantia no orçamento do ano subsequente. Essas determinações judiciais de pagamento são os precatórios, que devem observar fielmente a ordem cronológica da sua expedição.


Por que os precatórios demoram para ser pagos?

Muito embora a Constituição de 1988 tenha previsto que o pagamento tenha que ser feito no ano seguinte à inclusão, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios raramente cumpriam o mandamento constitucional. Isso gerou uma fila enorme dos precatórios, já que a dívida do ano anterior não havia sido paga, aumentava de valor, razão por que no ano seguinte o mandatário eleito usava desculpas para executar o orçamento em outras prioridades.

Ben White / Unsplash

Atenção, diversamente dos entes federativos, a União (e as suas autarquias, como o Banco Central, o INSS, as Agências Reguladoras) paga os precatórios cumprindo a regra constitucional.


Mudanças Constitucionais nos Precatórios

Como essa enorme dívida é um problema político de grandes proporções, há diversas emendas constitucionais que tentaram solucionar a fila dos precatórios.

A Emenda 30 de 2000, criou uma fila especial para as dívidas de pequeno valor (chamados de RPV - Requisições de Pequeno Valor), mas acabou sendo conhecida como a "Emenda do Calote" por que permitiu parcelar os precatórios atrasados em 10 anos (e em muitos lugares, nem o parcelamento foi cumprido).

A Emenda 62 de 2009 determinou que os Tribunais centralizassem o controle da dívida, o que passou a gerar a lista unificada dos credores, mas também permitia que os devedores adotassem um índice de correção monetária inferior à inflação - o que foi julgado inconstitucional em 2015.

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Promulgação da Emenda 94 / Lúcio Bernardo Júnior

A tentativa mais nova de resolver a questão dos precatórios é a Emenda 94, de 2016, que determinou alguns limites mínimos de pagamento pelos entes em atraso com precatório, sob pena de bloqueio dos recursos dos Fundos Constitucionais (valores que a União arrecada e redistribui para o orçamento geral dos Estados e dos Municípios).

A regra obrigava colocar os precatórios em dia até 31 de dezembro de 2020, mas isso foi suavizado com a Emenda 99, de 2017, que estendeu o pagamento até o último dia de 2024.

Essas duas últimas emendas foram efetivas no Distrito Federal e passaram a gerar um fluxo de recursos para o pagamento de precatórios.


Como está a fila do Distrito Federal hoje?

A lista unificada de precatórios do Distrito Federal é feita pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, e a última disponível foi atualizada em fevereiro de 2020:


(cuidado tem 940 páginas)


O 1º processo da fila se iniciou em 1994, e teve seus cálculos julgados de forma definitiva em 2002. O precatório foi expedido em 02 FEV 2003, para ser pago no orçamento de 2004. O que conta nessa ordem cronológica não é quando o processo se iniciou, mas quando ele foi definitivamente julgado. O n. 60 da fila iniciou o processo em 1997 e teve precatório expedido em 13 MAI 2003, e o n. 66 começou seu processo em 2000, com precatório expedido em 26 MAI 2003).


Requisições de Pequeno Valor - uma fila muito rápida

Essa espera de 17 anos não vale para o RPV, que no Distrito Federal é limitado a 10 (dez) salários-mínimos. Não há informação pública disponível sobre a fila de RPVs, mas em 2019 e em 2020 eles foram pagos em meses, tal como ocorre com as RPVs da Justiça Federal.

Exatamente por conta dessa velocidade, em condenações de valor próximo a R$ 15 mil reais muitos considerar que compensa renunciar o que passa de 10 salários-mínimos para receber antes.


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Guillaume Jaillet / Unsplash

Por que tem chance de melhorar?

Poucos anos atrás, a fila de RPV não andava rápido assim, e a explicação é que as emendas 94 e 99 trouxeram um fluxo permanente de recursos para o pagamento de precatórios.

Agora, os entes federativos têm obrigação de apresentar um plano de pagamento anual. Em 2019, o Distrito Federal propôs seu plano informando ter pago 108 milhões de reais nos quatro primeiros meses, o equivalente a 1,5% da sua receita corrente líquida e se comprometeu a pagar 500 milhões no total do ano.

A evolução do pagamento segundo o Portal de Transparência (ação 9001 Execução de Sentenças Judiciais) é a seguinte:

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Em valores históricos, o Distrito Federal pagou 118 milhões de reais em 2009. Corrigidos, esse montante seriam os 213 milhões que estão no gráfico acima. Em 2019, pagou-se 449 milhões (quase 460 corrigidos) ou seja, um incremento de aproximadamente 117% em valores reais (ou seja, descontada a inflação).

Mesmo com a terrível crise do covid19 no ano de 2020, vê-se que aproximadamente metade da previsão para o ano já foi paga no início de julho.


Como o estoque de dívida evolui?

Em 2018, o Distrito Federal devia 3,8 bilhões de reais, segundo o plano de pagamento da sua Procuradoria Jurídica.

Em 2019, o montante foi apontado mais precisamente em 3,962 bilhões, o que não significa um aumento em termos reais (já que a inflação rondou 4%).

Em 2020, a Justiça considerou um estoque de dívida de 3,6 bilhões de reais - o que é uma queda bem significativa em termos reais (descontada a inflação).

O juro real pago pelo Distrito Federal em seu estoque de dívida é estimado em 3,6% ao ano, ou seja, aproximadamente 130 milhões de reais de juros a cada ano.

A queda no estoque é explicada pelo pagamento com desconto que foi permitido a partir da Emenda 94. O credor desesperado com a demora aceita dar um desconto para o ente público (de até 40%) e fura a fila.

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A Cabeça de Franz Kafka - escultura D.Černý - foto J.Nosek

Qual é a perspectiva de redução de prazo de pagamento?

Como só recentemente os planos de pagamento passaram a ser públicos, é difícil afirmar que há uma trajetória de queda no estoque de dívida. Com os dados existentes, é possível confirmar uma média de diminuição do estoque de mais de 200 milhões de reais por ano - o que é corroborado pelo volume total de pagamentos anual.

Nesse ritmo, a cada ano, o tempo de espera total diminuirá em 1 ano. Em 5 anos, os precatórios de 12 anos estarão para ser pagos. Em 8 anos, os precatórios com 8 anos de idade estarão para ser pagos.

Essa estimativa é apenas isso, uma estimativa, e depende da situação das finanças públicas e a evolução da atual pandemia, da economia do Distrito Federal, do país e do mundo. No entanto, na opinião do escritório, é possível ter alguma esperança na diminuição do prazo de quitação dos precatórios, que hoje é uma imoralidade.

 
 
 

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